A Nota Fantasma: Como ouvimos o que não está sendo tocado?

Você sabia que muitas vezes ouvimos notas que, na verdade, não estão ali? Parece mágica — mas é pura ciência sonora misturado com psicologia. Estamos falando de um fenômeno fascinante chamado fundamental ausente.

O que é a fundamental ausente?

Na música e na acústica, cada nota que ouvimos é composta por uma frequência base (chamada frequência fundamental) e vários harmônicos — múltiplos dessa frequência. Mas aqui vai a parte mágica: mesmo quando essa frequência fundamental não está presente fisicamente no som, nosso cérebro consegue “preenchê-la” com base nos harmônicos que estão. Por exemplo: Vamos supor que esteja sendo tocada a nota Lá (A3) cuja frequência fundamental é o 220Hz. Para acharmos seus harmônicos, basta acharmos os múltiplos de 220, portanto são 220 (fundamental), 440 (segundo harmônico), 660, 880 e assim por diante. Se por acaso removermos a frequência fundamental de 220Hz, que é a que da sequência para a característica daquela nota, continuamos ouvindo ela na mesma altura. Vale ressaltar que, 440 que é o segundo harmônico, representa uma oitava da nota, que é o A4, mas como pode-se perceber, continuamos ouvindo-a nota como A3. Isso é fascinante, não?!

O experimento da Coruja de Petr

No livro “A música no seu cérebro”, de Daniel J. Levitin, cita o experimento da Coruja de Petr, onde uma coruja foi conectada por eletrodos e uma versão de Danúbio Azul foi tocada sem a fundamental. A ideia de realizar o teste com uma coruja, que inclusive é um animal bastante sensível ao som, foi provar que o fenômeno da Fundamental Ausente não é algo que acontece apenas com os humanos. Nos medidores dos eletrodos, realmente seu cérebro respondia como se a nota fundamental estivesse sendo tocada.

O cérebro como maestro invisível

Esse truque auditivo acontece porque o nosso sistema auditivo é incrivelmente esperto. O cérebro analisa os padrões de espaçamento entre os harmônicos e “reconstrói” o que seria a nota base. Ou seja, ele deduz a frequência fundamental mesmo sem ter todos os dados. É como se você recebesse partes de um quebra-cabeça e, com base nos padrões, seu cérebro dissesse: “Ah! Eu já vi isso antes. Isso é um cachorro!” — mesmo que a peça do focinho esteja faltando.

 Como produtores podem usar isso?

Durante a produção de uma música, é muito comum que removamos uma frequência fundamental por completo, e sem querer, acabamos nos deparando com esse fenômeno praticamente todos os dias. Por exemplo, quando removemos as frequências mais graves de um instrumento, não estamos querendo alterar aquela altura (e altura aqui, significa oitava), mas quando fazemos isso, damos espaço para outros instrumentos com mais presença grave atuarem. Isso pode ser um truque também para que a pessoa que esteja ouvindo a música em um fone ou aparelho de som mais limitado para reproduzir os graves, não deixe de ter a experiência que a música proporciona.

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